É difícil falar sobre o fim. É difícil pra mim escrever sobre o fim. Escrevendo sobre o que sinto agora, mexo num canto meu que gostaria de trancar e não mais passear ali, mas é necessário. Sabe quando você está prestes a fazer uma coisa que pode não ser nada bom, mas você sente que será importante e te fará bem?
Segunda, dia 19/12 fui com minha mãe e Hermes, fazer um ultrassom para saber se o bebê estava bem por conta do sangramento leve que eu estava à 3 dias. Na noite anterior ao ultrassom, eu sentia e sabia que não estava tudo bem. Às 9:45 da manhã, não ouvimos os batimentos cardíacos do bebê.
Eu ouvi a notícia e a mastiguei a segunda toda. Chorei, sofri, questionei Deus, sua benevolência e amor incondicional, me culpei, pensei que poderia ser erro médico, chorei, chorei, chorei, quis morrer, quis nunca mais lembrar de nada, quis perder a memória, quis desaparecer, e então, dormi.
Acordei na terça-feira e senti que engoli a notícia. Engoli. Deixei ali, tentando uma digestão. Tomei um banho e o sangramento que até então era leve, tornou-se abundante. E a dor, que antes não era física, tornou-se.
É difícil, é muito difícil passar pelo processo mental de um aborto e quando inicía-se o processo físico é ainda mais doloroso.
Hoje, quinta-feira afirmo que a notícia, a dor, nunca será digerida. Vai ficar ali, num lugar só dela, num lugar que ninguém e nenhuma outra dor nunca alcançou, vai ficar ali. Num lugar que tranco agora e não abro nunca mais, à ninguém. Existe hoje um vazio, um lugar em mim oco. Um lugar estranho, esquisito, quente, ele dói, dói, mas dele brota força.
Esse blog nasceu de uma esperança ocupando meu ventre. Esse blog nasceu
da espera por uma vida nova. Esse blog nasceu pra nascer em todos nós
algo novo. E nasceu. Meu bebê não esperou nove meses pra nascer, ele
decidiu me parir às nove semanas. Com nove semanas de gravidez, eu
nasci.
Com amor, Larissa Minghin.